- Não acho seguro que saias à rua sem companhia! – disse-lhe
a mãe.
Ela encolheu os
ombros. Ia fazer o quê?
- Não acho seguro
que não tomes precauções, ou que não uses arma, não acho seguro que não
consigas alguém para te acompanhar. Não acho seguro…pronto!
Ainda a mulher não
acabara a frase, e já ela cruzava a ombreira da porta.
Estava uma noite
sem luar. Haviam acendido archotes junto aos antigos postes de electricidade. Nunca
duravam muito, mas concediam uma sensação de confortável normalidade enquanto
ardiam.
Deu uma meia-dúzia
de passos colada às sombras. Sabia que não iria adiantar porque eles viam no
escuro com os seus olhos cor de mercúrio. Começou a ter sérias dúvidas se
conseguiria chegar ao Abrigo sem ser interceptada e, por muito que lhe custasse
admiti-lo, começava a conceder algum crédito às palavras da mãe. Ouviu nitidamente um som débil,
como um rosnar ou um uivar contido. Sabia que o perigo estava próximo, mas
prosseguiu a sua marcha intrépida, com o pensamento no Abrigo, e na avó que ali
esperava pela comida que ela lhe iria levar. O medo fez com que acelerasse o
passo, com o cesto da comida a balançar para trás e para diante, e a brisa fétida das
ruas a enfunar a sua longa capa vermelha que pendia do capuz que lhe envolvia
os cabelos dourados.
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